Quando se pensa em
proteção para redes de computadores, a preocupação
normalmente recai sobre riscos de curtos-circuitos,
surtos de corrente e descargas atmosféricas e a interferência
eletromagnética, normalmente é esquecida. Entretanto,
ela pode causar muitos problemas no funcionamento
dos equipamentos e, até mesmo, inutilizá-los.
Para se ter uma idéia,
a interferência eletromagnética está se tornando uma
das maiores causas de perturbações nas transmissões
de dados em redes de computadores.
Breve Histórico
A interferência eletromagnética
é um distúrbio provocado pelos circuitos internos
dos equipamentos eletro-eletrônicos (rádios, computadores,
lâmpadas, etc) e também por eventos naturais que atingem
a rede elétrica (descargas atmosféricas), causando
uma resposta indesejada, mau funcionamento ou degradação
de performance de equipamentos.
Durante a segunda
guerra mundial foram relatados casos de EMI devido
ao uso de rádios, dispositivos de navegação e radares.
Entretanto, o fato mais significativo foi o problema
de interferência devido à invenção dos componentes
eletrônicos tais como transistores, circuitos integrados
e os microprocessadores. Os chassis dos equipamentos,
bem como os cabos de força e de interligação, captavam
com muita facilidade a interferência eletromagnética
de outros equipamentos próximos e, os ruídos gerados,
por apresentarem amplo espectro de freqüências, tornavam-se
bastante difíceis de serem filtrados.
Devido ao aumento
dessa ocorrência de interferência nos sistemas digitais
de radiocomunicação, a FCC (Federal Communications
Commission), dos Estados Unidos, publicou uma regulamentação
que prescrevia os limites de emissões de todos os
dispositivos digitais. A partir do final da década
de 1970 e início dos anos 80 foram publicados os primeiros
estudos sobre a interferência eletromagnética em equipamentos
eletrônicos.
Ambiente Eletromagnético
O ambiente eletromagnético
pode ser definido por vários elementos, tais como
a rede de energia elétrica, o tipo de edificação,
outros equipamentos eletro-eletrônicos instalados
e até o ambiente externo.
O ambiente eletromagnético
de uma rede de computadores pode ser alterado à medida
que ocorrerem reformulações no layout dos equipamentos,
na edificação e, principalmente, na instalação elétrica.
A ausência de uma política de prevenção específica,
do ponto de vista da compatibilidade eletromagnética,
com o sistema de energia elétrica pode ser a origem
de diversos problemas de interferência nos equipamentos
da rede.
Interferência Eletromagnética
A EMI (Electromagnetic
Interference) ou Interferência eletromagnética é caracterizada
por uma degradação no desempenho de um equipamento
devido a uma perturbação eletromagnética que é capaz
de se propagar tanto no vácuo quanto por meios físicos.
Com isso, é possível verificar suas conseqüências
a quilômetros de distância, como é o caso das descargas
atmosféricas.
Na verdade, todo circuito
eletrônico produz algum tipo de campo magnético ao
seu redor e, assim, se torna gerador de EMI. Como
conseqüência, temos a transferência energia eletromagnética
(ou acoplamento) entre um equipamento "fonte"
com o equipamento "vítima", que pode ocorrer
por radiação ou condução, ou ambos. Em todos os casos
temos o envolvimento de uma fonte de energia eletromagnética,
um dispositivo que responde a esta energia (vítima)
e um caminho de transmissão que permite a energia
fluir da fonte até a vitima.
A coexistência de
equipamentos de tecnologias diferentes, que emitem
energia eletromagnética, em instalações elétricas
projetadas inadequadamente, cria o problema de tornar
eletromagneticamente compatíveis esses equipamentos
com o ambiente onde estão instalados. Por exemplo,
a EMI é muito freqüente em áreas industriais, em função
de maior uso de máquinas e motores e em redes de computadores
próximas a essas áreas.
A EMI pode ser responsável
por diversos problemas em equipamentos eletrônicos,
dentre eles podemos ter falhas na comunicação entre
dispositivos de uma rede de computadores, caracteres
estranhos no monitor de vídeo, alarmes acionados sem
motivo aparente, falhas esporádicas e que não seguem
uma lógica, queima de circuitos eletrônicos e ruídos
elétricos na alimentação.
Compatibilidade Eletromagnética
A Compatibilidade
Eletromagnética - EMC (Electromagnetic Compatibility)
pode ser definida como a capacidade de um dispositivo
ou sistema para funcionar satisfatoriamente no seu
ambiente eletromagnético sem introduzir, ele próprio,
perturbações eletromagnéticas intoleráveis naquele
ambiente. É, essencialmente, a ausência de EMI.
A EMC quer dizer que
um equipamento é compatível com seu ambiente eletromagnético.
Esses dois termos EMI/EMC estão intimamente ligados
e um equipamento é dito compatível eletromagneticamente
quando:
Não causa interferência
em outros equipamentos;
É imune às emissões
de outros equipamentos;
Não causa interferência
em si próprio.

Figura
1 - Estrutura básica da EMI/EMC
Fontes
naturais e não-naturais
As fontes de EMI
podem ser divididas em naturais e não naturais (produzidas
pelo homem). As fontes naturais podem ser desde
ruídos atmosféricos, decorrentes de descargas elétricas,
até ruídos cósmicos provocados por explosões do
Sol. Por exemplo, no caso de quedas de raios sobre
a rede de distribuição de energia elétrica, o distúrbio
é propagado pelos fios até a instalação interna,
provocando diversos danos.
As fontes de EMI
não naturais são geradas tanto dentro do ambiente
predial como fora dele, em acionamentos de cargas
indutivas como motores elétricos, cargas resistivas
como lâmpadas incandescentes, aquecedores, equipamentos
médicos, aparelhos de microondas, equipamentos de
comunicação móvel, etc. Um exemplo é a interferência
causada por motores elétricos, resultante de arcos
gerados nas escovas do motor. Como o comutador faz
e desfaz o contato através das escovas, a corrente
nos enrolamentos do motor é interrompida, causando
uma grande variação de tensão através dos contatos.
A qualidade da energia
elétrica
Independente da
fonte de EMI, a qualidade da energia elétrica fica
comprometida. A princípio, a energia elétrica entregue
aos consumidores deve ser confiável e satisfazer
às necessidades de cada um. Nesse contexto, o ambiente
de uma rede de computadores deveria ter sua alimentação
elétrica sem ruídos, sem variações de tensão e sem
quedas de energia. Porém alguns fatores como quedas
de raios sobre ou próximo à rede de energia, o uso
de cargas não lineares e retificadores dificultam
essa tarefa, que é de responsabilidade da concessionária
de energia.
Interrupções no
fornecimento de energia ou ruídos gerados na rede
elétrica podem ocasionar falhas graves ou degradação
no desempenho dos dispositivos de uma rede de computadores.
Portanto, os fabricantes devem projetar esses equipamentos
de modo a superar essas deficiências, seja com filtros,
seja com fontes chaveadas e, em contrapartida, as
concessionárias devem fornecer uma energia com qualidade.
Esta qualidade depende não só da concessionária,
mas também dos equipamentos elétricos utilizados
nas unidades consumidoras.
É cada vez mais
comum a utilização de equipamentos eletroeletrônicos
por consumidores industriais, comerciais e residenciais,
mais sensíveis a problemas de qualidade de energia
na rede, mas também mais poluidores, provocando
distúrbios que podem afetar outras unidades consumidoras.
Entendendo a EMI
Para entender
como ocorre a EMI, as suas conseqüências e as possíveis
medidas para minimizar ou extinguir seu efeito,
é necessário compreender o modo de acoplamento (definido
como o caminho pelo qual parte ou toda energia eletromagnética
de uma fonte especificada é transferida a outro
circuito ou dispositivo), a ligação condutiva, qual
a fonte causadora, os receptores dessas energias
(equipamento vítima), os níveis de energia e a freqüência
envolvida.
A figura seguinte
mostra possíveis fontes de EMI (conduzida e irradiada),
que podem estar presentes em um ambiente onde está
instalado um equipamento vítima.

Figura
2 - EMI conduzida e irradiada
Um tipo de EMI bastante
comum é a conduzida, que provoca degradação no
desempenho de alguns equipamentos utilizados em
redes de computadores. Essa interferência possui
características bem definidas como ruídos em forma
de transientes de alta freqüência, provocados por
acionamentos e desligamentos de motores, ou pode
ser uma simples variação / flutuação da tensão
de rede.
Tanto a emissão
como a imunidade aos ruídos são fatores importantes
no projeto de um equipamento para uma rede de computadores.
No caso de emissões, o projetista deve respeitar
os limites impostos pelas normas, provendo o equipamento
com filtros de linha na entrada da fonte de alimentação,
isolando, blindando e aterrando circuitos digitais
que operem com altas freqüências ou circuitos analógicos
com impedâncias elevadas, além de outras técnicas
de montagem da rede interna que minimizam as emissões
e garantam um nível de emissão dentro dos limites
das normas.
Imunidade Elétrica
e Susceptibilidade
Os níveis de EMI
são internacionalmente regulamentados por normas
que definem e estabelecem o conceito de EMC (Electro
Magnetic Compatibility). Ou seja, a compatibilidade
que um equipamento eletrônico deve apresentar entre
os limites da sua capacidade de emissão de ruídos
e os limites da tolerância à captação dos mesmos,
chamada de imunidade ou suscetibilidade (EMI/RFI
Immunity or Susceptibility). Por exemplo, a norma
IEC 61000-2-2 regulamenta o uso da rede elétrica
de baixa tensão para a transmissão de dados, uma
tecnologia que vem sendo empregada pelas concessionárias
há algum tempo para monitoração e controle de equipamentos
remotos em baixa velocidade e, atualmente, para
uso da Internet em banda larga.
Imunidade é uma
questão relacionada à interferência externa que
pode prejudicar o funcionamento de um equipamento.
Pode-se empregar o termo susceptibilidade ao invés
de imunidade. Susceptibilidade é definida como sendo
a inabilidade de um dispositivo, equipamento ou
sistema desempenhar seu funcionamento sem degradação
na presença de um distúrbio eletromagnético. Estes
dois termos, na realidade, se referem à mesma coisa.
Um equipamento estará susceptível acima de um certo
nível de EMI e imune abaixo desse nível. Por exemplo,
quando se testa um equipamento com 2 kV, para ensaio
de surto ou rajadas (burst), dizemos que ele está
imune até esse nível, acima ele pode estar susceptível.
Por isso o termo susceptibilidade se torna subjetivo.
Fontes e Receptores
de EMI
O ambiente de uma
rede de computadores que tenha uma diversidade de
equipamentos instalados está sujeito a EMI gerada
em seu próprio ambiente pelos próprios equipamentos
ou originadas em salas e prédios vizinhos ou até
mesmo em cabines primárias e subestações de energia
próximas. Os efeitos podem ser desprezíveis como
um simples ruído (chuvisco) apresentado em um monitor
de vídeo ou podem trazer danos irreparáveis como
a perda de informações, queima de unidades de disco,
etc.
Um ambiente eletromagnético
não está apenas restrito a campos eletromagnéticos,
mas também a sinais ruidosos na linha de transmissão
ou de distribuição de energia elétrica. Por exemplo,
um equipamento eletrônico pode não estar sujeito
a campos eletromagnéticos gerados por um outro equipamento
próximo, mas pode sofrer uma interferência devido
aos ruídos produzidos por esse equipamento e propagados
através da rede de alimentação elétrica. Portanto,
fontes e receptores de EMI sempre existirão.
Fontes de EMI
As causas básicas
de EMI podem ser agrupadas em diversas categorias,
desde efeitos de sobrecarga fundamental, ruído externo,
emissões espúrias de um transmissor, variações de
tensão, transientes elétricos e até descarga eletrostática:
Sobrecarga
Fundamental - Os equipamentos
devem ser capazes de selecionar o sinal desejado,
enquanto rejeitam todos os outros. Um sinal fundamental
suficientemente forte pode entrar em um equipamento
de diversas formas, sendo a mais comum a condução
através dos fios conectados a este. Condutores
possíveis incluem antenas e linhas de alimentação,
cabos de interconexão, de transmissão, de potencia
e cabos de aterramento. As antenas de TV e linhas
de alimentação, telefones ou cabeamento de alto
falantes e cabos de AC são os pontos mais comuns
de entrada;
Ruído externo
- A maioria dos casos
de interferência envolvem algum tipo de fonte
externa de ruído, sendo o mais comum o ruído elétrico.
Os ruídos externos também podem ser originados
em transmissores ou fontes não licenciadas de
RF, computadores, rádios, fornos de microondas
e outros mais;
Emissões Espúrias
- Todos os transmissores
geram sinais de RF fora de suas freqüências alocadas.
Estes sinais fora de faixa são chamados de emissões
espúrias. As emissões espúrias podem ser sinais
discretos ou ruídos de banda larga (harmônicos).
Harmônicos são sinais em múltiplos exatos da freqüência
de operação (ou fundamental). Outros sinais espúrios
são geralmente causados pelo processo de mistura
de freqüências usado na maioria dos receptores
de rádio. Os transmissores também podem produzir
ruído de banda larga e/ou oscilações parasitas.
Transientes
elétricos - São fenômenos
que ocorrem no sistema elétrico, geralmente de
forma indesejável e inesperada. São muitas vezes
difíceis de detectar devido ao curto tempo de
duração. Medidores convencionais não são capazes
de detectá-los ou medi-los devido à resposta em
freqüência e taxa de amostragem limitadas. Os
transientes podem ser de vários tipos, tais como:
impulsivos, oscilatórios, de curta ou longa duração
e com amplitudes que atingem alguns kV. Os transientes
ocorrem no sistema elétrico quando há alterações
de carga, quando ocorre uma queda de raio sobre
uma linha de transmissão ou subestação de transformação,
ou mesmo quando há um chaveamento/desligamento
de cargas ou banco de capacitores.
Variações
de tensão - Ocorrem
normalmente devido ao acionamento ou à parada
de cargas de potência elevada na rede de alimentação,
por exemplo, motores de elevadores. Essas perturbações
são mais lentas e duram mais tempo e por esse
motivo são mais perceptíveis e talvez menos perigosas
do que os transientes, porque ao contrário destes,
é possível perceber a perturbação no funcionamento
e intervir na operação do equipamento antes que
a rede possa sofrer algum dano. Uma das perturbações
mais comuns são os "sags" ou "dips"
tipicamente causados por acionamentos de motores
elétricos e fornos. Os motores de indução podem
consumir uma corrente de partida de até 800% da
corrente nominal e durar até 8 segundos, dependendo
do tipo de motor e da inércia da carga.
Descarga Eletrostática
- Além dos distúrbios
elétricos gerados na rede de energia e das fontes
de RF, existem as ocorrências de descargas eletrostáticas
(Electrostatic Discharge - ESD). A ESD
é um fenômeno resultante da separação de cargas
estáticas. Por exemplo, o atrito de dois tipos
de materiais isolantes (o ar e a pele humana)
pode transferir carga elétrica de um para o outro.
Ao separá-los ocorre acúmulo de carga positiva
em um e negativa no outro, gerando campos elétricos
intensos e conseqüentemente uma diferença de potencial
entre eles que pode atingir cerca de 25 kV.

Figura
3 - Distúrbios da rede elétrica: variação de tensão
(a, b, c) e transientes (d)
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